10/02/2012

Regresso à casa mãe


Regresso à casa mãe

Não, isto não é mais um chato texto sobre o regresso em que os jovens que regressam da universidade voltam a casa porque não conseguiram engravidar nenhuma mula em tempo adequado. Cambada de aselhas.

Este é só mais uma breve recordação do espaço que contribuiu decisivamente para a minha formação enquanto cidadão, enquanto religioso (tantas vezes que rezei para sair de lá direitinho), enquanto rapaz preparado para as dificuldades da vida (querer pegar em 1,25€ para comprar um pratinho de iscas e não ter, tendo de pedir a amigos sob o pretexto do “para a próxima pago eu”).

Falo, como é óbvio, naquele templo chamado “Casa de Petiscos A Caverna”, local de peregrinações diárias de 2007 a 2010 por jovens frescos e cheios de força, acabados de sair da asa da mãe, a entrar para o mundo real, um mundo onde a chouriça, o queijo e o tinto parecido com gasóleo são reis.

Que belo espaço aquele de 2,5 metros de comprimento, 1, 80 metros de altura e alguns centímetros de largura. Teve depois de sofrer algumas obras devido ao facto de os nossos pipos terem crescido bastante.

Era a nossa referência! Era o palco dos nossos encontros filosóficos (ao fim de 5 minutos já toda a gente reflectia sobre o facto de não sentir as pernas). Era a casa mãe dos jovens a quem a vida não valia a pena se não fosse acompanhada de um copo de tinto e uma rodela de chouriça. O Sr. Carvalho (gerente da ermida) por vezes, depois de chegarmos ao destino, dava se ao luxo de fechar as portas connosco lá dentro porque para além do dinheiro não ser tudo na vida, depois de a malta apostólica chegar ao pequeno recinto o cachet diário do Caverna estava feito. Era até não haver uma fatia de broa, um pingo de molho e uma patanisca que sobrasse. Coisa linda.



Foi este bonito estabelecimento que contribuiu para a evolução do estatuto de gordinho para obeso. Que se lixe, as iscas valeram a pena!

O Caverna permitiu também para o nosso restrito grupo manter antigas tradições, tais como o assar de enchidos no porquinho de barro, assar o Pedro Estevães no forno a Lenha, entoar belas cantigas de amor, entre tantos outros momentos de destaque.

O Caverna tinha também o engenho de, apesar das suas reduzidas dimensões, se transformar num interminável labirinto devido ao facto de muitas vezes, ao fim de umas trolitadas de “Sem chumbo 95”, perderes a noção donde estavas e de como de lá saíres. Verdade. Lembro um momento em que levei um colega de fora a jantar no estabelecimento e ao fim de 5 ou 6 minutos já não o conhecer, tal era o bagaço ingerido pela minha pessoa.

O caverna era por isso a típica casa portuguesa. Isto porque te acolhia como um filho e só te deixava de lá sair para o mundo quando estivesses graúdo e com pelos no peito.

Impedia também que os hábitos rabetas dos meus colegas viessem ao de cima, e conduzindo-os no caminho certo do gostar de mulas, pois só um homenzinho com H é que conseguia passar ali uma jornada diária firme e hirto, os rabetas não aguentavam a pedalada.

Devido a este amontoar de episódios é que eu defendo a canonização do Caverna como lugar santo! Tantos os devotos que fez e formou para a vida.
“Havemos de voltar”

Um brinde ao Caverna,

Diogo Pini

Sem comentários: